Casos de revitalizações são tema de painel na C40
Representantes das cidades de Nova York,
Melbourne, Copenhague e Rio de Janeiro se reuniram na Cúpula dos
Prefeitos (C40), no Forte de Copacabana, domingo, dia 17 de junho, para
discutir processos de requalificação de regiões portuárias no mundo. O
painel "Sustentabilidade nos Projetos de Revitalização de Zonas
Portuárias: Porto Maravilha e outros casos de sucesso", parte da
programação oficial da Rio+20, apresentou propostas sobre como
reurbanizar áreas levando em conta os princípios de sustentabilidade.
"Os desafios são parecidos. O objetivo é criar novas zonas portuárias
transformando o espaço em áreas comerciais e residenciais. A solução
deve conciliar essas mudanças com as necessidades da população,
principalmente a residente", defendeu o moderador Ephim Shluger,
urbanista e consultor do Banco Mundial, que destacou a importância da
parceria entre setores privados e públicos para a concepção dos planos
de revitalização.
Na apresentação do caso Porto Maravilha, Alberto
Gomes Silva, assessor da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região
do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp) relembra que desde a década de 1980 a
Prefeitura do Rio planeja requalificar a área. "O Porto Maravilha é
uma versão possível desta ideia, agora levando em conta os conceitos de
sustentabilidade crescentes no mundo. A região é singular e rica em
monumentos históricos, grande parte da riqueza do País entrou por aqui.
Vamos ligar Zona Norte à Zona Sul e reaproveitar o material da demolição
da Perimetral e da construção de novas vias", explica.
Em Melbourne, na Austrália, há um plano para 2020: a
cidade pretende se tornar o maior nome em sustentabilidade mundial.
Para isso é necessário investir em tecnologia eficiente, defende
Michelle Isles, supervisora dos Programas de Sustentabilidade e
Estratégia da Cidade. A Prefeitura de Melbourne reduz resíduos
orgânicos, estimula o aproveitamento consciente dos recursos hídricos e a
construção de edifícios verdes, inclusive nas comunidades de baixa
renda. "Temos o controle da infraestrutura e nos orgulhamos disso.
Antes, a área de Docklands era um grande aterro. Agora, tem escritórios e
edifícios verdes. Somos exemplo por isso", orgulha-se Michelle.
Copenhague planeja ser neutra em Carbono até
2025. A cidade está crescendo, mas espera-se criar uma cadeia de
desenvolvimento com sustentabilidade. O Porto de Nordhavn executa o
projeto de revitalização levando em conta a implantação de ciclovia em
toda a área. A meta é que 50% da população dê preferencia a bicicletas.
Claus Bjorn Billehoj, diretor de Departamento de Planejamento para
Sustentabilidade e Relações Internacionais da cidade de Copenhague,
apresentou essas expectativas, ressaltando a importância das obras para a
população: "Não só uma metrópole ecológica, mas um lugar para seus
cidadãos viverem bem, este é o principal lema. A qualidade de vida é um
dos itens mais importantes do projeto", resume.
Professor da Universidade de Columbia e
coordenador de Planejamento Integrado da consultoria em sustentabilidade
Arup, de Nova York, Trent Lethco enfatizou o mau aproveitamento das
ciclovias no mundo e sua importância para uma maior circulação em áreas
de orla. "Houve uma duplicação de ciclovias em Nova York nos últimos 5
anos. Um exemplo é a área de Lower Manhattan. Ali a acessibilidade
propiciou o crescimento habitacional da região", analisa.
Para Luc Nadal, diretor do Instituto de
Políticas de Transportes e Desenvolvimento (ITDP), é preciso utilizar o
princípio da fórmula urbana: travessas, ruas próximas e caminhos com
muitas possibilidades para chegar a um mesmo destino. "O meu sonho é
que todas as partes da cidade sejam interligadas, que as pessoas cheguem
a qualquer lugar sem precisar de baldeação. O Brasil tem um histórico
de bairros compactos como Copacabana, Ipanema e Leblon, invejados no
mundo todo. Sugiro que o Porto Maravilha se inspire nesses bairros",
destaca o diretor, que elogia o modelo de Copenhague.
Ao abordar o caso carioca de revitalização,
Nadal afirmou que a Cidade do Samba é um lugar de muita importância
para a cidade e, por isso, deveria oferecer mais permeabilidade e
oportunidade de interação com os pedestres. "A demolição do Elevado da
Perimetral, segundo ele, é tema relevante e, como tal, deve ser
discutido pela sociedade", defendeu em seguida. Para o urbanista, há
princípios básicos de garantia de qualidade de vida na cidade moderna:
transporte público de qualidade e mobilidade urbana sustentáveis,
criação de espaços públicos, recuperação de espaços urbanos, ciclovias,
calçadas para pedestres e adensamento. "O Porto Maravilha é, sem dúvida,
uma manifestação concreta de um projeto que incorpora todos esses
princípios", esclareceu nota do ITDP após o debate.
Em relação à polêmica sobre a demolição da
Perimetral, estudos técnicos mostram que tanto o elevado como a Avenida
Rodrigues Alves estão com a capacidade de tráfego de veículos saturada.
"O novo sistema viário planejado para a Região Portuária amplia essa
capacidade e cria alternativas de transporte público de qualidade e
afinado às práticas sustentáveis. O combustível fóssil deixa de ser o
foco do deslocamento nos bairros do Porto Maravilha e dá lugar a 30 Km
em linhas do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que vão integrar todos os
modais da região, mais 17 Km de ciclovias e ruas exclusivas para a
passagem de pedestres", esclarece Alberto Silva.
Luiz Raimundo, aposentado que mora Guaratinguetá,
interior de São Paulo, veio especialmente para assistir ao painel. Ele
comentou a importância do transporte público, tão discutido em todas as
apresentações. "Moro no interior e, no Rio, senti a diferença no
transporte coletivo. Aqui é difícil se locomover, tudo é muito longe e
ainda não temos opções. Achei muito interessante a proposta de uma
cidade mais compacta. Isso facilitaria o cotidiano das pessoas",
concluiu.
Última atualização: 21/06/2012
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