Brasil
| N° Edição: 2243
| 01.Nov.12 - 18:00
| Atualizado em 06.Nov.12 - 18:10
O PT repaginado
O governo da presidenta Dilma Rousseff é aprovado nas urnas e dá a ela cacife para comandar a maior renovação do partido
Claudio Dantas Sequeira, Izabelle Torres e Josie JeronimoAPROVAÇÃO
Pela primeira vez, o governo Dilma foi submetido ao escrutínio
público - e o resultado, para ela, não poderia ter sido melhor
Nas primeiras tratativas para a montagem de seu gabinete, Haddad seguiu a cartilha da presidenta e avisou que não se renderá ao “toma lá dá cá”. A referência ao modo de governar de Dilma ganha cada vez mais espaço dentro do PT, serviu de slogan para centenas de candidaturas e passou pelo primeiro grande teste nas urnas. O resultado foi a maior votação de um partido em eleições municipais, com mais de 17,2 milhões de votos em todo o País. Foram 635 prefeitos eleitos, o que significou um crescimento de 14% no número de municípios nas mãos do PT. Dilma foi uma das grandes vitoriosas da eleição. Seu governo, pela primeira vez, foi submetido ao escrutínio público – e os resultados, para ela, não poderiam ter sido melhores.
PARCERIA
Com a eleição de Haddad, o ex-presidente Lula reafirma seu poder na
legenda e, de olho em 2014, investe em um novo desenho para a cúpula petista
Na terça-feira 30, o presidente do PT, Rui Falcão, se reuniu com a bancada do partido no Congresso para debater o assunto. Foi informado de que parte importante da sustentação do PT, como os sindicatos bancários, de professores e da saúde, está decidida a se alinhar totalmente à imagem de Dilma e se afastar do grupo de Dirceu. Falcão percebeu que o partido vem perdendo espaço nos movimentos sindicais, debandando para a órbita de legendas como o PSol. O impacto da condenação dos réus petistas, a propósito, foi alvo de uma pesquisa encomendada pelo PT logo após o fim do segundo turno. A cúpula da sigla desconfia que a abstenção recorde registrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – mais de 22 milhões não compareceram às urnas – faça parte de um fenômeno de “desilusão” política e que grande parte desse exército de desencantados seria de eleitores ou simpatizantes do PT. Dependendo do resultado da pesquisa, o partido poderá tomar medidas mais radicais para minimizar o “efeito mensalão” e reconquistar esses votos antes que eles encontrem outro destino.
Padilha foi o ministro mais solicitado pelos candidatos às prefeituras no primeiro turno, gravando cerca de 90 vídeos de apoio a petistas. Nos discursos, prometeu investimentos na área da saúde e ressaltou a boa vontade da sua gestão com os municípios. Ele tem sido lembrado pelos defensores da renovação como um nome competitivo para a disputa pelo governo de São Paulo daqui a dois anos. Assim como Luiz Marinho, prefeito reeleito de São Bernardo do Campo e considerado o petista mais próximo de Lula. Os petistas que clamam por renovação na cúpula da sigla garantem que a rejeição do eleitorado a nomes antigos fez a ficha cair de vez e, em 2013, o partido sairá do estado de negação para a fase do enfrentamento do problema.
NOVOS RUMOS
Gleisi Hoffmann (acima), Padilha (abaixo) e Pimentel (última) ganham
espaço no PT e largam na frente como pré-candidatos à disputa para
os governos do Paraná, de São Paulo e de Minas Gerais, em 2014
Na quinta-feira 1º, a Executiva Nacional do PT se reuniu para fazer um balanço e traçar as estratégias para os próximos anos. Nas palavras do presidente do partido, Rui Falcão, foi dada a largada ao “projeto de construção e valorização de lideranças”. Falcão disse que ainda será necessário um tempo maior para analisar o “desfalque” ocorrido este ano, em consequência do julgamento do mensalão, e avalia que a renovação não pode prescindir de nomes que ainda são referências. “Aos 33 anos, o PT pode criar novos quadros, mas deve manter referências nacionais importantes, como Lula”, disse à ISTOÉ. Não citou Dirceu. Para o cientista político Gaudêncio Torquato, da USP, Lula continuará se dedicando nas próximas eleições a essa renovação de quadros, investindo em perfis mais técnicos, em detrimento de petistas históricos. “A velha guarda do PT vai ter de aceitar a renovação, porque Lula se respalda nos votos e é o último líder carismático do Brasil”, diz. Segundo ele, o ex-presidente tem pressa na assepsia do partido pós-julgamento do mensalão.
Em novembro do ano que vem, ocorrem as eleições para a escolha dos membros do Diretório Nacional e sua Executiva, e dos diretórios estaduais e municipais. “São os filiados que escolhem quem vai dirigir o PT”, diz o secretário Nacional de Organização do PT, Paulo Frateschi. Segundo ele, essa eleição será um marco no processo de renovação da imagem da legenda. Estão em jogo o futuro imediato do partido e a elaboração de uma nova agenda para o País. Dentro do partido, a pressão pela renovação das lideranças só aumenta. Na opinião do senador Wellington Dias (PI), há uma demanda crescente pela construção de um novo discurso, por novas bandeiras. “O PT precisa se atualizar”, avalia Dias. “Nós ainda estamos falando sobre temas da ditadura, mas 50% dos eleitores são jovens que só conhecem o regime militar pelos livros de história.” Essa renovação tem alimentado várias batalhas por espaço dentro do partido, não só nos palanques como dentro do Congresso. O deputado petista Paulo Teixeira (SP) vem se articulando para viabilizar sua candidatura à vice-presidência da Câmara dos Deputados. Teixeira foi líder do partido e é considerado bom articulador. Agora, aproveita a tendência de mudanças para crescer nas brechas deixadas pelo líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), desgastado com a cúpula do Executivo, e por Jilmar Tatto (PT-SP), cuja liderança na bancada petista tem sido muito criticada.
TRABALHO
Dilma em palanque e o prefeito de São Bernardo do Campo,
Luiz Marinho (abaixo). Governos técnicos para um novo PT
Foto: Caio Guatelli/Folhapress; Karime Xavier/Folhapress; Paulo Pinto; Adriano Machado/ag. istoé; FABIO RODRIGUES-POZZEBOM/ABR; Luciano Claudino/Frame/Folhapress; RICARDO TRIDA/DIÁRIO DO GDE ABC/ESTADãO CONTEÚDO
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